



Grupo Prole apresenta Homens de Papel de Plínio Marcos
Com direção de Sérgio Audi, a peça ficou em cartaz durante três anos na capital paulistana.
A produção busca atualmente levar o espetáculo para outras cidades e estados do país.
Depois de ficar em cartaz em temporada no Espaço dos Satyros I e no Teatro Fábrica, o grupo mudou de nome - anteriormente assinava como Grupo Sombreiro de Teatro e depois como Grupo Chão - e iniciou parceria com o Coletivo Núcleo 2 - fundado em 2002.
Desta parceria surgiram duas novas temporadas do espetáculo com encenação amadurecida pelo histórico de peças de forte cunho social e político do diretor Sérgio Audi e da atriz Monica Raphael - fundadores do coletivo Núcleo 2.
A peça reflete a indignação constante e o ceticismo em uma real mudança estrutural, típico de nossa geração que já não tem ideologias para se apoiar e se sente perdida e indefesa contra todo um sistema de exploração e humilhação. A contraposição do desejo de melhoras sociais e da submissão diante de desejos individuais atingidos. A troca da busca por sonhos pela busca da sobrevivência. O homem-social, o homem-animal, o homem-predador, o homem-homem.
“Homens de Papel" é um dos textos de maior força social deste renomado dramaturgo brasileiro. Ao abordar um grupo de catadores de papel, na tentativa de conseguir justiça de seu comprador-explorador, conflitos individuais e sociais aparecem fazendo da peça um exemplo das relações humanas. Mais do que conhecer um texto com toda a força e coerência de Plínio Marcos, nesta montagem o público tem acesso a uma realidade para a qual insistimos em fechar os olhos, uma realidade de exploração e luta pela sobrevivência.
O espetáculo mostra a rotina do grupo de catadores que, revoltados com a exploração do intermediário comprador de papel, Berrão, querem paralisar a coleta. Em meio a este cenário chega à comunidade um jovem casal com uma filha doente. Os novatos, ainda alheios à realidade do grupo, querem trabalhar duro para juntar dinheiro e levar a filha a um médico. A partir deste conflito a trama da peça encontra acontecimentos trágicos e comuns, que ultrapassam a esfera social à que se referem. Uma história sobre a exploração do homem pelo homem, sobre a luta pela sobrevivência, sobre o a luta por melhores condições sociais e a submissão desta luta às necessidades individuais.
É um texto brutalmente social, de uma socialidade que tem precisas alusões políticas: é quase impossível não ver no paradigma desses homens de papel a triste parábola dos povos sul-americanos: bolivianos, argentinos, brasileiros, todos, todos, irremediavelmente homens de papel. Ou será que não somos todos Homens de Papel, apenas alguns com roupagens mais agradáveis socialmente.
Como diria o autor "não são os textos dele que continuam atuais, é a realidade que, infelizmente, não muda". Realidade que não é apenas brasileira, nem pertence unicamente às cidades grandes. Realidade que pertence à todos nós, sentimentos que compartilhamos. Ainda que em um mundo de miséria, onde se luta pela sobrevivência, estes sentimentos estejam mais a flor da pele.
Neste teatro para satisfazer os insatisfeitos e incomodar os satisfeitos, este dramaturgo santista aproxima a platéia do submundo, da realidade que insistimos em ignorar, de homens como nós, a quem muitas vezes negamos a humanidade e tratamos como papéis: descartáveis.
A montagem do Grupo Prole é concebida numa arena de quatro lados, explorando a proximidade do ator em relação à platéia e os múltiplos ângulos e pontos de vista possíveis de uma mesma cena.
São utilizados tanto os espaços em frente ao público, como movimentações de cena realizadas atrás das platéias, procurando uma relação espacial que insere o público dentro da ação, indo de encontro à chamada à ação contra as injustiças contida na obra de Plínio Marcos.
Os personagens são desenhados de acordo com uma pesquisa realista, procurando penetrar no universo dos excluídos invisíveis de uma metrópole do terceiro mundo.
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SERVIÇO
Grupo Prole apresenta Homens de Papel
De Plínio Marcos
Direção: Sérgio Audi
Duração: 120 minutos
Faixa etária recomendada: 16 anos
